Coraline é assustador
Não lembro a primeira vez que assisti Coraline, mas lembro de ter me borrado nas calças. Não sei exatamente o que foi, mas alguma coisa naquela história me fez sentir medo.
Suspeito que tenha sido culpa dos botões no lugar dos olhos.
Coraline também traz outro aspecto assustador para a minha imaginação: o medo de sonhos inocentes se transformarem em pesadelos macabros. A história vem acompanhada daquela sensação desesperadora de passar do deslumbre ao pavor em questão de botões.
Todos nós, em algum momento, já imaginamos como seria se a vida fosse diferente. E é comum que nossa imaginação visite o melhor cenário. Gostamos de vislumbrar um mundo onde sonhos se tornam realidade. Mas é comum, também, imaginar o pior. O que não acontece com frequência é nossa mente misturar as duas coisas. E foi isso que Neil Gaiman fez… imaginou como seria se o sonho virasse o pesadelo.
Poucas pessoas no mundo podem se dar ao luxo de dizer que imaginaram um mundo onde pessoas possuem botões no lugar dos olhos e sonhos não passam de uma armadilha para atrair crianças tristes e inocentes. Parabéns, Neil Gaiman!
Eu sei que essa não é uma fórmula nova, afinal temos os contos dos irmãos Grimm por aí mostrando que contos de fada com finais felizes não existiam. Suas histórias foram mascaradas pela Disney e crescemos acreditando que tudo sempre acaba “felizes para sempre”.
Como teria sido crescer em um mundo onde irmãos são abandonados à própria sorte pelos pais no meio da floresta porque eles são pobres demais e não têm comida para todos. E aquelas histórias onde princesas são estupradas enquanto dormem? Ou seja, a versão original das histórias infantis é toda problemática e Coraline é praticamente a versão moderna dos contos de fada, só que com um final feliz.
Quando assisti Coraline de novo, não senti tanto medo, mas ainda achei assustador. Talvez tenha sido pelo fato de, hoje, conhecer a versão original de alguns dos contos que mais me fizeram sonhar quando criança. Talvez tenha sido porque já sabia o que esperar. E talvez tenha sido por não acreditar mais em contos de fada da Disney. Seja como for, Coraline é um doce lembrete de que nem tudo que reluz é ouro.